segunda-feira, julho 31, 2006

Grande medricas

Alberto João Jardim desiludiu-me: esperava sinceramente que o Grande Líder madeirense aproveitasse mais uma festa do Chão da Lagoa - que nenhum presidente nacional do PSD visita desde 2000, não vá aquilo ser contagioso - para soltar enfim o grito do Ipiranga, quebrando as últimas amarras do Funchal ao jugo colonial de Lisboa. Nada disso aconteceu: Jardim limitou-se às arengas do costume, que já não aquecem nem arrefecem, perdendo assim uma excelente oportunidade para se declarar imperador da Madeira e seus domínios (Porto Santo, Desertas e Selvagens) e desperdiçando também a perspectiva de uma presença autónoma do arquipélago no próximo Mundial de Futebol. Só para nos vermos livres dele, até lhe cedíamos o Cristiano Ronaldo sem regatear...
Afinal ainda não foi desta. Grande medricas que aquele gajo me saiu.

Não se coibiram de trocar carícias

O prato forte desta edição da Lux é a putativa aproximação entre dois jornalistas da SIC que a revista identifica depois de tê-los fotografado sem autorização numa discoteca. O texto que acompanha as fotos é digno de antologia: "A Lux pôde testemunhar o grande à-vontade e a enorme cumplicidade entre os dois. Embalados pelos ritmos quentes, A e B [a revista publica os nomes] não se coibiram de trocar beijos e carícias, dançando de forma sensual, com as mãos entrelaçadas." Depois, "já na zona dos poufs, onde se sentaram confortavelmente, [A e B] mantiveram-se afastados mas continuaram a conversar, trocando sorrisos amistosos". Lá ficaram até às 5 da manhã "e nem o cansaço de um dia de trabalho conseguiu ser mais forte do que a atracção que os aproximou naquela noite".
Claro que o facto de a Lux ser propriedade da Media Capital, o mesmo grupo empresarial que detém a TVI, canal rival da SIC, é pura coincidência. Claro que é. Só podia mesmo. Porque não haveria de ser?

Coisas irritantes


A moda da chinela pegou, mas eu ainda não cheguei lá! Isso incomoda-me. Enfiar no dedo do pé um chinelinho é super fashion, mas eu sinto-me uma demodée total. Irrita-me ouvir shlac, shlac, shlac na rua, mas as pessoas vão felizes de chinela! E, pior, irrita-me mais ainda ver os homens com a marca do bronzeado no pé em forma de chanata, mas eles sentem-se como deuses...

Introduzido por via periareolar

Adepta do rigor, a Lux dá voz ao médico "que fez a cirurgia do aumento mamário" a uma tal de Sara Aleixo, presumível actriz. Segue a transcrição na íntegra deste esclarecimento clínico, com a devida vénia do Corta-Fitas: "Contrariamente ao que Sara Aleixo disse à Lux, a cirurgia de aumento mamário a que se submeteu - na Clínica Faccia, em Campolide - foi executada com sedação e anestesia local e não com anestesia geral, e teve a duração aproximada de uma hora. Na mesma entrevista, a actriz referiu ainda: 'Colocaram-me a bolsa de silicone através de um corte no mamilo.' Mas o médico, António de Oliveira Nunes, corrige: 'Não se trata de uma bolsa, mas de um implante de silicone - unidade de gel coesivo - e, neste caso, introduzido por via periareolar'."
De novo a palavra à inefável Júlia Pinheiro, autoproclamada adepta da "filosofia de chinelo": "De que vale um corpo sem alma?"

Mulheres num pântano de agitação

O mundo é cor-de-rosa visto nas páginas da Lux. "Dois meses depois de ter sido mãe pela primeira vez, Catarina Furtado continua a amamentar a filha", Maria Beatriz. A mãe da apresentadora televisiva, avó babada, segreda à revista: "[A bebé] já reconhece as vozes e sorri muito no banho." Mais enternecedor só o "momento de grande felicidade" que Piet-Hein Bakker está a viver ao lado da última (e grávida) namorada, Patrícia Silva. Isto depois de se divorciar de Alexandra Lencastre e de sucessivos affaires com Teresa Caeiro e Inês Barros, "colega de Patrícia", que é "a segunda namorada de Piet-Hein dentro da Endemol", de acordo com a contabilidade da Lux. Tudo bem diferente do tempo - já recuado - em que Maria João Lopo de Carvalho sofreu o primeiro desgosto de amor, com apenas 15 anos. O relato vem na primeira pessoa: "Ele acabou tudo comigo quando eu lhe contei que tinha dançado um slow com outro rapaz. Sofri imenso e até pus a hipótese de suicídio..." Como diz Júlia Pinheiro no consultório sentimental da última página, "muitas mulheres vivem mergulhadas num pântano de agitação".

Manela e os macacos narigudos

Esta semana voltei a comprar a Lux: nada melhor para sacudir o tédio. Ainda bem que o fiz: a revista do grupo Media Capital é um poço de revelações. Fiquei a saber que a escritora light Maria João Lopo de Carvalho, "assessora da Direcção Municipal da Cultura da Câmara de Lisboa", está neste momento "muito tranquila a nível emocional". A actriz americana Kate Bosworth "é apaixonada por cavalos mas para lhe fazer companhia tem dois gatos, Louis e Dusty, e uma cadela chamada Lila". E Manuela Moura Guedes embarcou de férias para a Malásia com a intenção de ver "os famosos macacos narigudos, cuja imagem até tem no seu telemóvel", como assinala a Lux. "Espero não me apaixonar por nenhum, senão fico lá", confidenciou a jornalista, minutos antes de entrar no avião. Desconhece-se a reacção do marido, José Eduardo Moniz, que embarcou no mesmo voo.

A primeira vez no duche

Já me tinha acontecido de quase tudo. No cinema, por exemplo. Ou num velório. Ou até no funeral do pai de um deputado socialista. "Estou agora mesmo a enterrar o meu pai. Ligue-me um pouco mais tarde, se não lhe fizer diferença", pediu-me ele, num sussurro. Deixando-me com um incómodo peso na consciência, como se eu tivesse podido adivinhar.
Mas só ontem telefonei a alguém que se encontrava no duche: ouvia-se a água a escorrer com toda a nitidez. Do outro lado da linha, a voz esclareceu-me: "Estou a tomar banho. Podes ligar daqui a dez minutos?" Juro que foi a primeira vez: nunca me tinha acontecido.
Está provado. A nossa vida tornou-se mesmo indissociável do telemóvel.

Lido

Magnífica análise do Carlos Leone, no Esplanar. Mesmo concordando com parte, deixe-me pensar que aquele fio de jogo e aquelas vitórias são para ficar. E não são apenas para Guadiana ver... Carlos, saúdo-o como sportinguista que é e espero que desta vez não tenha razão. Já agora, reparou que o Deivid fez o gosto ao pé e que o Paredes está lento que se farta, mas tem presença em campo e sentido de posição (vi-o mandar o Tonel pairar noutras águas e tudo). Vamos ter calma e confiança, muita.

P. S. - Já estamos na recta final para nascer o Carlos Leone jr, não? Isso é que é mesmo importante.

Excelente questão

"Escapa-se-me a razão por que se não tem discutido a Convenção de Genebra na lusoblogosfera", interroga-se a Ana Cláudia Vicente no cada vez melhor O Amigo do Povo. Uma excelente questão, sem dúvida.

O ópio revisitado

Às vezes, é bom não ter auto-estima. Quando um dos nossos jogadores se comporta de modo vergonhoso, como o João Pinto no Mundial da Coreia, é merecidamente zurzido por cá e, fora meia dúzia de fanáticos, ninguém anda a justificar a boçalidade da atitude. Entretanto, na civilizada Inglaterra, a patada do Rooney no Ricardo Carvalho é vista com benevolência e atribuem a culpa da expulsão às palavras do Ronaldo, confirmando-o cientificamente com a posterior piscadela de olho... É incrível até que ponto o nacionalismo cego pode ser ridículo.Também na civilizada França, o coitadinho do Zidane não teve culpa nenhuma, o italiano é que foi mau e disse-lhe palavras feias. Se lessem os lábios a todos os jogadores de futebol e eles fossem punidos por isso, não sobrava um em campo. Qualquer pessoa que, como eu, na minha longínqua infância e juventude, jogou à bola, sabe que até entre irmãos se trocavam uns bons insultos, prontamente esquecidos mal aquilo acabava. Ridículo supremo foi ver uma série de comentadores portugueses, que se julgam muito politicamente incorrectos, andar a justificar a estupidez da cabeçada do Zidane (que, está fora de causa, foi um extraordinário jogador), como se isso tivesse sido mais um sinal da sua genialidade. Afinal, a nossa lamentada falta de auto-estima pode por vezes ser boa.

domingo, julho 30, 2006

Momentos Kodak (5)


Fsssssssstttttttttttttttttttttttt!!!!
(Oeiras, 25 de Janeiro de 2006)
Foto: Rodrigo Cabrita

Impressões musicais (2)


The Lamb Lies Down On Broadway – Duplo “concept” album dos Genesis de 1974. Peter Gabriel, Steve Hackett, Tony Banks, Mike Rutherford e Phil Collins.

Este é sem dúvida um dos mais marcantes discos da minha vida. Não assisti ao célebre concerto no pavilhão dramático de Cascais. Em Maio de 1975 eu era uma criança. Quando pela primeira vez contactei com esta obra-prima, foi no Verão de 1976 em casa de amigos. Dava os meus primeiros passos de adolescente, o meu pai fora "saneado" da Torre do Tombo, e o PREC entrara-nos violentamente pela casa e vida adentro. O nosso gira-discos já não tinha agulha, a televisão avariara há mais de um ano e muitas outras "coisas" estiveram em perigo de “avariar” definitivamente.

Estranhos e loucos dias esses, em que o mundo dos meus pais desabava para sempre, e em que a minha ligação à música se cingia à transmitida pela telefonia. A toda a hora esta papagueava Fernando dos Abba, a Bohemian Rhapsody dos Queen, Fly, Robin, Fly, dos Silver Convention entre tantos outros super hits. Como alternativa, havia demasiada música de intervenção, e podia-se ouvir boa música, discos do princípio ao fim no programa “Dois Pontos” já não sei de qual emissora. Numa frequência FM ouvíamos as comunicações do COPCON, sempre actuante no “olho” da revolução, mas essa seria outra história.
Os tempos continuavam estranhos e uma estranha rebeldia apoderara-se da minha existência. Neste fabuloso álbum duplo dos Génesis, Peter Gabriel vestia a pele de Rael, um jovem e ingénuo "punk" Porto-Riquenho que inadvertidamente “aterra” na Broadway. Então começa uma louca aventura em busca de John (seu alter ego?). Cada música é um episódio mais ou menos surrealista, cada faixa mais fantástica e com ritmos mais endiabrados, com crescentes e sofisticadas melodias que narram uma série de experiências existenciais de Rael: do erotismo (Counting out time), à violência gratuita (Back in New York City), paisagens psicadélicas (Broadway Melody of 1974 ou The Carpet Crawlers), ou proféticas (The Chamber of 32 Doors) aos monstros míticos (The Lamia). Rael, de aventura em aventura caminha para o abismo final, uns agitados “rápidos” (In the Rapids) de onde resgata o (afinal) seu irmão John, que, surpresa das surpresas, não é mais do que o próprio, no outro lado do espelho. Termina a história com o tema It: "(…) It is Rael. it is Rael, Cos its only knock and knowall, but I like it". Um delírio.

Nessa época embrenhei-me e refugiei-me naquela música, com aquela delirante história, e com a voz única e inconfundível de Peter Gabriel. É que, num belo dia do início de Verão em 1976, na feira da ladra descobri uma bobine de fita magnética que servia num grande e velhíssimo gravador existente lá de casa. Nessa bobine (a única que eu tinha) com uns cabos emprestados, em casa de uns amigos consegui fazer uma “gravação directa” do álbum in-tei-ri-nho!
Durante esse Verão e meses seguintes, ouvi e explorei incansavelmente todo o disco. A voz de Peter Gabriel tornou-se para mim uma espécie de "fetiche". Uma sonoridade onde identifico muito do que a vida tem de bom e de lugar seguro para se estar. Sempre perdoei todos os “desvios artísticos” e “devaneios ideológicos” deste cantor e compositor que continuo a admirar. Nunca perdoei os Génesis não terem terminado com a sua saída.

No passado mês de Maio assisti pelo segundo ano consecutivo à performance dos “Musical Box” que repõe em palco todo o lendário espectáculo que é o The Lamb Lies Down On Broadway ao vivo, com uma minúcia e arte admiráveis. Tratando-se esta de uma música tão complexa quanto “cerebral”, a sua interpretação por outros protagonistas é bastante plausível, bastando para tal que estes sejam musical e tecnicamente evoluídos. Nesse espectáculo na Aula Magna confirmei e esclareci muitas das minhas fantasias no que refere ao mítico espectáculo do Dramático de Cascais que nunca assisti. Afinal com a vantagem de não estar pedradíssimo e esmagado com as pernas para o ar no meio de 10 mil loucos eufóricos que não sabiam ao que iam. E o meu prazer e consolação foram enormes, numa poltrona da Aula Magna.
E sempre em coro com os restantes fanáticos, apaixonados como eu, revisitei sentimentos e sonhos destas músicas já antigas. Trauteámos sílaba após sílaba, acorde após acorde, todos os noventa minutos desta louca obra-prima dos Genesis de Peter Gabriel: The Lamb Lies Down on Broadway.

Etiquetas:

Maria João Pires: "toccata e fuga"

“Maria João Pires lanzarotou-se.”
António Costa Amaral, A Arte da Fuga

“Maria João Pires foi-se embora de Portugal, porque não gosta de certos malefícios lusos e do impacto de Morangos com Açúcar. Na sua nova terra, na Bahia, uma coisa é certa: ali nunca houve nem há qualquer vestígio de telenovela.”
Luís Carmelo, Miniscente

“A Bahia deve ser muito mais divertida do que Belgais.”
Eduardo Pitta, Da Literatura

“O Brasil costuma receber muito bem cidadãs portuguesas ligadas à música. Caso aceite tocar Chopin com um ananás na cabeça é provável que Maria João Pires vá parar a Hollywood.”
Leonardo Ralha, Papagaio Morto

“Há quem ostente a emigração como um acto político. Por achar que o ego é maior que a Pátria.”
Jorge Ferreira, Tomar Partido

“Eu já parti e nunca pedi ajuda. Parti, não me queixei, não tinha queixas a fazer. Voltei, continuei sem queixas. As queixinhas dão sempre para desconfiar.”
Francisco José Viegas, A Origem das Espécies

Very true

«People used to explore the dimensions of reality by taking LSD to make the world look weird. Now the world is weird and they take Prozac to make it look normal».

Bangstrom

As árvores e os frutos

Lá revi A Sombra do Caçador ontem à noite. A cópia não me pareceu nas melhores condições, o que acontece com excessiva frequência na Cinemateca, e a exígua Sala Luís de Pina está longe de ser a mais recomendável para exibir uma obra-prima do cinema. Mas a deslumbrante película de Charles Laughton resiste bem a estas pequenas adversidades logísticas. Com Robert Mitchum na perfeita encarnação do Mal e Lillian Gish - que foi a primeira estrela do cinema - a servir-lhe de contraponto. Há um sopro bíblico neste singular filme negro onde as crianças desempenham um papel central, numa espécie de celebração do triunfo da inocência. Com alusões ao Sermão da Montanha, talvez o mais belo texto de toda a Bíblia.
"Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos, nem árvore má dar bons frutos." É uma inesquecível passagem do Evangelho de São Mateus que serve de legenda implícita a este filme de óbvia matriz cristã que se indigna contra quem pratica crimes em nome de Deus - e de uma perene actualidade neste tempo de implacáveis predadores travestidos de arautos da virtude. A Sombra do Caçador é um grande filme também por isto.

Os «Ecos de Aljustrel»

Tenho assistido ao debate sobre o conflito no Médio Oriente. Percebo muito pouco do que realmente está em causa e ao ler as diversas tomadas de posição nasce em mim a convicção de que discutir a moralidade da guerra é um labirinto de onde dificilmente se sai. Vem-me à memória um artigo do Vasco Pulido Valente (VPV) escrito em 1999 quando se debatia no parlamento português a intervenção da NATO na Jugoslávia. Nunca mais me esqueci. Levantavam-se então os mesmos dilemas morais(?) que exacerbam posições de um lado e de outro. Produziam-se manifestos anti-guerra, tal como hoje, e ecoavam as vozes dos grandes Soares, Freitas, Eanes e do inefável bispo Januário, entre outros. Na coluna que então escrevia no DN - "Faz de Conta" - o VPV ilustrou a cena com uma história deliciosa que o Eça contava sobre o director dos Ecos de Aljustrel. Quando Bismarck invadiu a França, o bom homem, a espumar de fúria, ameaçou com veemência: «Deixem estar que amanhã dou cabo dele nos Ecos.»

Gostei de ler

1. Tomar Partido. De João Caetano Dias, no Blasfémias.
2. Samir Kassir. De Luís Januário, n'A Natureza do Mal.
3. Vidas Civis. De Bruno Cardoso Reis, n' O Amigo do Povo.
3. Torturada. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
4. Uma Bola em Agosto. De Rui Bebiano, n'A Terceira Noite.

sábado, julho 29, 2006

Tomar partido

Algumas das personalidades que se reclamam da "equidistância" no actual conflito israelo-árabe fazem-me lembrar aqueles que nos anos 70 e 80 gritavam nas ruas europeias: "Nem NATO nem Pacto de Varsóvia." Como se pudesse haver equivalência moral e política entre sistemas democráticos e totalitários. Não tomar partido, em diferendos como este, equivale a apoiar quem tem menos razão. Cometem-se crimes de ambos os lados? Certamente que sim: toda a inocência se perde em tempo de guerra. Mas, tal como Pacheco Pereira aqui nos advertia a propósito das recentes teses revisionistas sobre a Guerra Civil de Espanha (1936-39), toda a equidistância é imoral quando está em causa um conflito entre a legitimidade democrática, ainda que musculada por uma questão de sobrevivência, e a pura lógica do terror que faz tábua-rasa de básicos princípios civilizacionais. Basta recordar como o Comité de Não-Intervenção, durante a Guerra Civil de Espanha, beneficiou objectivamente os rebeldes de Franco contra as legítimas autoridades de Madrid. Quando recusamos optar entre um mal maior e um mal menor, acabamos - mesmo sem querer - por fazer a pior das escolhas.

As palavras dos outros

“O amor é um desejo de atingir a plenitude. Sexo é o desejo de se satisfazer com a plenitude.”
Arnaldo Jabor, Amor É Prosa, Sexo É Poesia

Saudades do "nosso" Maestro

Estou chocado. Morreu hoje aos 79 anos o Maestro Jorge Machado de quem eu era amigo e admirador. Tocava piano no hotel Tivoli Lisboa há quase quarenta anos, coisa que considerava “um trabalho prazenteiro”. Quase sempre notava-se bem o prazer com que o que fazia.
Às vezes, no Terraço, tocava para mim Grappelli, Lloyd Webber e Bach. Depois, conversávamos muito sobre música. Sobre “o apreciar” desta divina arte. Sobre a vida dos músicos, sobre o seu teatro musicado e os seus musicais. Eu sempre lhe ia dizendo, não sem uma ponta de inveja, que nós, "os melómanos", éramos uns privilegiados, pois gozávamos com infinito prazer do valoroso trabalho dos grandes músicos, quase sempre “da poltrona” e com tão poucos incómodos. Ele ria-se. E agradecia sempre (não sei bem o quê).
Eu é que lhe ficarei para sempre grato por me ter tocado tanto com a sua simpatia e música no meu coração.

sexta-feira, julho 28, 2006

Tatuagens para quê?

Ao ler alguns posts do João Villalobos - como o das cuecas dos homens ou o dos bigodes - fiquei com imensa vontade de revelar uma das minhas fobias de pele. Não suporto esta moda das tatuagens. Aliás, mesmo antes de estar na moda também já não as suportava. Há uns anos proliferavam as tatuagens nos músculos dos braços ou no peito que tinham dizeres como "Angola 68" ou "Amor de Mãe", hoje em dia é tão mau ou pior. Meninos e meninas usam e abusam dos símbolos e da numerologia chinesa, dos dragões, cobras, cruzes góticas, etc. Não se aguenta e dá um ar sujo.
Há casos em que as meninas mandam tatuar a dita coisa em sítios estratégicos, para revelar com uma roupinha pirosa mais atrevida. Eles optam pelo pescoço, pelas mãos ou pelas pernas (em especial se jogarem futebol). Os nomes das namoradas, mulheres ou dos filhos (normalmente com nomes que há uns anos nem eram autorizados) ganham também relevo nas peles, muitas vezes com batente, sombreado, brilho e por aí fora. Ninguém se enxerga?

P. S. - Veja-se aqui o exemplo da Elizabeth Hurley, onde é que já vai o menino Hugh Grant?.. E que bonita que ela fica sem aquilo ali.

Bons e maus presos políticos

Achei tocante a preocupação, revelada pela bancada do PCP no debate parlamentar de ontem, quanto à eventual existência de "milhares de presos políticos" em Israel. Mas não acredito que esta preocupação seja genuína. Se o fosse, os comunistas portugueses estariam também preocupados com os presos políticos em Cuba, por exemplo: acontece que nunca lhes ouvimos uma palavrinha sobre este assunto. Já para não falar na Coreia do Norte, que Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP, admitiu ser uma democracia. Quem confunde o ditador Kim Jong-Il com um democrata perde toda a autoridade moral para criticar o que quer que seja...

Para a Ana Sá Lopes, com estima

-##


|----------------------------------|
Nice Song !! | Tablature for Dire Sraits's : |
| ON EVERY STREET |
|----------------------------------|


(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[----2----------]
(D)[------3--------]
(A)[---------------]
(E)[1--------------]

(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[--------5------] Simultaneously.
(G)[-------4-------]
(D)[---------------]
(A)[---------------]
(E)[-----3---------]

(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[----2----------]
(D)[------3--------]
(A)[---------------]
(E)[----2----------]

(E)[---------------] Play the used string + (G) & (E)
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[---------------]
(D)[----2----------]
(A)[---------------]
(E)[---------------]

(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[----2----------]
(D)[------3--------]
(A)[---------------]
(E)[1--------------]

(E)[---------------] Play the used strings + (E)
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[-------4-------]
(D)[--------5------]
(A)[---------------]
(E)[---------------]

(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[---------------] Simultaneously.
(G)[--------5------]
(D)[--------5------]
(A)[---------------]
(E)[-----3---------]

(E)[---------------] Play the three used strings
(B)[--------5------] Simultaneously.
(G)[-------4-------]
(D)[---------------]
(A)[---------------]
(E)[-----3---------]

& Repeat

Três secos

A vitória de ontem do Sporting sobre outro clube da segunda circular merece alguma atenção. Primeiro, 3-0 já é uma goleada. Depois, impressiona porque a equipa treinada por Paulo Bento tem pouco mais de uma semana de trabalho nas pernas e já joga a sério.
Sobre a nova estrela, Yannick Djaló, que foi a figura do jogo, recomenda-se juízo. Espera-se que possa evoluir em Alvalade como João Moutinho ou Nani e que não seja uma explosão para vender no fim do ano ao desbarato, como aconteceu com Cristiano Ronaldo, Quaresma e um jogador que parece ter chegado a capitão do clube ontem goleado. Deixem Yannick jogar com a alegria e a sabedoria que já deu para ver que tem e aí ele passará de diamante em bruto a jogador a sério. Caso contrário, se o elevarmos ao Olimpo cedo demais, não passará de um Litos, um Mário Jorge, um Dani ou outros casos mais recentes de grandes jogadores que não crescem à altura de um Figo ou um Pedro Barbosa. Sobre este último recaem, aliás, grandes responsabilidades na condução da equipa de jovens talentos, a partir do seu novo cargo de director do departamento de futebol. Com falta de referências e com a braçadeira entregue a promessas como Custódio ou Moutinho (para além de Ricardo), é em Barbosa que os miúdos vão buscar o que precisam de saber. Deles, de Liedson e de contratações como Paredes, Farnerud ou "El Loco" se fará o grande Sporting 2006-2007!

Já chegámos ao Dubai

A propósito desta notícia tenho a dizer que a expressão «a actual Marina não se revelou completamente bem sucedida» é dos maiores eufemismos que li na minha vida.
A Marina de Cascais foi um fiasco, de proporções equivalentes à altura do projecto que agora inventaram.
António Capucho, pelos vistos, acha que uma torre de vidro com 100 metros não vai afectar a paisagem. Como vivi anos e anos em Cascais, tenho tendência para já não rir com coisas destas. Deve ser da idade.

Friday

Heidi Klum. Com uma música do Seal (qualquer uma) a ouvir-se baixinho, baixinho.

Desplumados

Mais uma prova de como Portugal é manifestamente incapaz de reter os melhores talentos: Katrin Potoczek, a nossa «menina da bilha», partiu de vez para a sua Polónia natal.
Com 23 aninhos, a rapariga diz que vai estudar para dentista. Felizes os cariados da Polónia, porque deles será a destartarização sem dor.

Actualização: Pois, pois, já me esquecia, a Maria João Pires também decidiu emigrar para o Brasil. Incrível como não me lembrei dela antes da Katrin. Ele há coisas...

Tenho isto em comum com o Tony Soprano

Gostamos ambos de Tony Bennett.

Ter Visão

O Corta-Fitas é um blogue "sempre atento". Este qualificativo, que consideramos um saboroso elogio, veio ontem publicado na popular (e original) secção Blogomania, da revista Visão. Tudo a propósito desta posta em que se reproduzia uma brilhante primeira página do jornal The Independent. A Visão, que faz jus ao nome, reproduz a pergunta que aqui se formulou: "Será que uma capa destas venderia bem nas nossas bancas?"

O meu pai bem me avisou...

...Mas agora surgiu a prova oficial. O Público incluiu a notícia na sua rubricazinha «O insólito», mas isto de insólito não tem nada meus amigos. Devia era ter sido primeira página, ó senhor director JMF.
Para acabar com uma praga de lagartas na Bélgica, a única solução encontrada foi, e passo a citar: «uma hormona sexual feminina que atrai os machos para as armadilhas. Uma vez aí, eles caem e morrem».
Não preciso de dizer mais nada, é evidente.

Um governo, duas políticas externas

A estreia de Luís Amado como ministro dos Negócios Estrangeiros, no debate parlamentar de ontem, representou um virar de página na política externa do Governo socialista. Com Freitas do Amaral ao leme da nossa diplomacia, todo o discurso implícito e algum explícito visava reforçar o poder da União Europeia face aos Estados Unidos, em aproximação das teses da esquerda tradicional. Pelo contrário, Luís Amado vem agora destacar a componente atlantista da diplomacia portuguesa, demarcando-se claramente dos partidos situados à esquerda do PS. "Existe algum anti-americanismo primário nas análises que alguns fazem a este conflito [no Líbano], disse o ministro, dirigindo-se às bancadas do PCP e do Bloco de Esquerda. Mas estas palavras poderiam também ter como alvo o próprio Freitas do Amaral.
Para Luís Amado, qualquer iniciativa da União Europeia no Médio Oriente só deve ocorrer "em conjunto com outro actor, que são os Estados Unidos". Algo que Freitas nunca diria. Como também não afirmaria isto que o seu sucessor ontem enunciou: "Não se pode pedir aos Estados Unidos que fiquem fracos. Pede-se é aos europeus que fiquem fortes."
Enfim, há uma voz sensata na condução da politica externa portuguesa. Só custa a crer como José Sócrates apadrinhou dois protagonistas com visões tão divergentes no Palácio das Necessidades...

Subscrevo

"Porque é que achamos normal que cada israelita, seja judeu ou árabe ou outra coisa qualquer, saiba que pode explodir no autocarro ou na pizzaria ou na bicha do cinema em qualquer dia da semana? Porque é que achamos normal que em Israel se viva no sentimento de cerco permanente?"
Fernanda Câncio, Glória Fácil

"É a primeira vez que, em estado de guerra, ouço fazerem-se críticas pela existência de uma 'resposta desproporcionada'. Como é então uma resposta proporcional na guerra?"
Martim Silva, Mau Tempo no Canil

"Nada de racional - ou sequer de afectivo - nos permite dizer, sem crítica ou autocrítica, que 'apoiar' a Palestina é de 'esquerda' e 'progressista' e que 'apoiar' Israel é de 'direita' e 'conservador'. Muito menos quando estas categorias derivam para os seus extremos - os Hamas e Hizbollahs fundamentalistas e/ou terroristas, ou certos governos mais belicistas de Israel."
Miguel Vale de Almeida, Os Tempos que Correm

"Nem tudo é relativo, por mais que possamos pensar o contrário."
Pedro Boucherie Mendes, Aos 35

Gostei de ler

1. O Pasquim Digital. Do André Moura e Cunha, no Porque.
2. A. O. S. Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
3. A Regra do Jogo. De Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.
4. A Manifestação. De Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos.
5. Planeta Hezbollah. De Rui Bebiano, na Terceira Noite.
6. Conselho de Segurança. De Luís Januário, n'A Natureza do Mal.

Momentos Kodak (4)

Dezenas de cabritas recém-nascidas amontoam-se por cima umas das outras por forma a não baixarem a temperatura do corpo.
(Tramagal, 21 de Fevereiro de 2006)
Foto: Rodrigo Cabrita

quinta-feira, julho 27, 2006

Até já

O Pedro Boucherie Mendes prometeu e cumpriu. Hoje, dia em que festejou 35 anos, pôs fim ao blogue homónimo. Com um excelente texto de despedida, intitulado "35 coisas que aprendi em 35 anos". Daqui vai um abraço de parabéns para ele. Esperando que regresse rapidamente à blogosfera.

Muito perto da perfeição

A crónica perfeita não existe. Mas algumas crónicas aproximam-se muito da perfeição. Como esta, assinada pela Ana Margarida de Carvalho - uma das pessoas que escreve melhor na imprensa portuguesa. Com textos como os dela a leitura torna-se sempre sinónimo de prazer.

Um dos mais belos filmes de todos os tempos

É uma daquelas películas que nunca nos cansamos de ver. Único título de um cineasta singular que não voltou a sentar-se na cadeira de realizador - o actor britânico Charles Laughton, que em 1955 rodou esta obra-prima insólita e arrebatadora, longa toada nocturna, mais poesia que prosa, cruzamento do expressionismo alemão com cinema negro, de conto de fadas com romance gótico. É uma fita hipnótica, com um cortejo de actores em estado de graça - incluindo Robert Mitchum, Shelley Winters e Lillian Gish. Vai ser exibida sábado à noite, a partir das 22 horas, na Cinemateca. Nem me passa pela cabeça perder esta sessão: A Sombra do Caçador é um dos filmes da minha vida.

Uma cidade roída pela solidão

Nos longos dias de Verão, quando muitos dos que aqui trabalham vão de férias, percebemos melhor como Lisboa está a transformar-se numa cidade povoada por velhos. Os jovens são cada vez mais empurrados para a periferia, tornando o centro da capital um domínio praticamente exclusivo de gente idosa, que quase nem sai à rua e se limita a espreitar o mundo pelo ecrã da televisão ou por um olhar furtivo à janela. Entre os recenseamentos de 1981 e 2001, Lisboa perdeu 20 por cento da sua população fixa. Há ruas onde não mora ninguém. No Rossio, conservam-se cinco residentes – o mais novo dos quais já septuagenário. E tudo isto, que devia ser tema de intenso debate público, parece não espantar ninguém. “On s’habitue, c’est tout”, cantava Jacques Brel numa das suas mais belas canções. É isso mesmo: vamo-nos habituando à invasão do insólito no nosso quotidiano e já não estranhamos rigorosamente nada.

A palavra ao leitor

Sem correr ainda o risco de imitar o dr. Pacheco Pereira, que vai tendo o seu Abrupto cada vez mais produzido pelas pessoas que lêem o blogue, volto a publicar uma mensagem de um leitor, transcrevendo-a da caixa de comentários para este espaço. É um leitor muito especial: o proprietário do restaurante Luca, em reacção a esta posta que aqui deixei há dias. Sensibilizou-me o fair play que revela, pouco frequente numa sociedade como a nossa, que aceita tão mal todo o género de críticas. Tomo só a liberdade de limar o "sotaque" italiano da sua mensagem, aportuguesando-a um pouco mais:
"Estimado Pedro,
Agradeço a sua descrição de 'cozinha criativa com raiz tradicional', seguramente a mais acertada que tenho lido. Ficamos felizes por saber que gosta do nosso restaurante. Adoraríamos tê-lo de volta ao Luca. Posso assegurar-lhe que temos ainda muito trabalho à frente para sermos um restaurante de sucesso. Por isso, ainda não se despeça de nós, por favor. Ligue-nos ou envie-nos um e-mail (luca@luca.pt) para reservar.
Muito obrigado e boas férias (se for; senão, bom trabalho)."
Luca (& team)

Ideia triste

Foi lançado esta semana e é um triste sinal destes tempos em que vivemos. Um insuflável ícone da solidão hodierna (ena, que frase portentosamente intelectualóide).
Chama-se «Buddy on Demand» e é um homenzinho que cabe no porta-luvas e depois se enche com um interruptor para acompanhar mulheres sozinhas ao volante, dizem os seus criadores.
82% das mulheres, afirmam eles, sentem-se mais seguras com alguém sentado a seu lado. Curiosamente, a porta-voz da empresa é uma mulher de nome Jacky Brown. Ao ler a notícia, vieram-me à cabeça diversas mulheres que, depois de insufladas, inspirariam muito mais confiança do que este homenzinho, mas decidi não nomeá-las. Também eu temo pela vida, e não só dentro do carro.

Até tu, DN?

Caro Duarte, a revista de luxo que hoje o jornal onde trabalhas publica grafou o teu nome errado na ficha técnica. Bem sei que é um carma que te persegue mas, bolas, na nossa própria «casa» não se admite.
Já agora, caros camaradas, agradeçam por mim aos editores a depressão em que me lançaram. Não há um único carro que possa comprar, um único hotel ou destino que esteja ao meu alcance, um único gadget tecnológico que não ultrapasse o orçamento da minha carteira.
Estou em crise e não sabia. Até hoje.

P.S. Por outro lado, gosto de dar festinhas ao papel. Este couchet é mesmo sedoso, caramba!

quarta-feira, julho 26, 2006

Nem todos

Jorge Ferreira generaliza, aqui. Pelo menos no que me diz respeito. Gosto de ouvir Pacheco Pereira. Gosto de ler as crónicas de Pacheco Pereira. Mas acho o Abrupto tão ilegível como hieróglifos sem uma Pedra de Roseta.
Uma salada de fontes e bonecos, uma caldeirada de textos dele, de autores e de leitores, um sortido rico de fotos sobre o trabalho no Sri Lanka e no Burundi, tudo isto tem o condão de escorraçar-me.
Como diriam os marketeiros, «não devo fazer parte do público-alvo». Ou então, sou simplesmente obtuso e bronco. Inclino-me mais para esta segunda hipótese.
Não se infira, daqui, que aprovo o ataque pirata de que foi alvo. Pelo contrário: Citando uma personagem do regressado Lucky Luke, acho que o criminoso «devia ser pendurado alto e curto». Ou, pelo menos, enviado para um campo de trabalhos forçados na Guiana Francesa, depois de devidamente fotografado.

Number 9, Number 9, Number 9*

E eis que o «Envelope 9» dá nisto. O que era legalmente mais do que previsível, embora hoje em dia nunca se saiba o que o tribunal gasta.
Como dizia Daniel Johnston no documentário recentemente nas nossas salas, «o 9 é o número do Diabo». Pelo menos, para Souto Moura, assim parece.

*Título roubado a Revolution 9. The Beatles, é evidente.
Ilustração roubada a Daniel Johnston.

Líbano: a impotência europeia

Javier Solana, o responsável pelas relações externas da União Europeia, é afinal o rosto da impotência de Bruxelas na actual escalada de guerra no Médio Oriente. Cada uma das suas intervenções públicas espelha as profundas contradições em que mergulhou a velha Europa, incapaz de um protagonismo efectivo à escala global.
Segundo Solana, o envio de um contingente militar da UE para o sul do Líbano "não é fácil de concretizar". Claro que não: na Europa que se diz unida, cada um puxa para o seu lado.
Passo a fazer o resumo possível das principais posições em jogo:
Reino Unido - Apoia a constituição de uma força militar da UE que garanta um cessar-fogo no Líbano. Mas o primeiro-ministro Tony Blair já avisou: essa força não incluirá britânicos. Os soldados de Sua Majestade andam com excesso de missões em palcos de risco, como o Iraque e o Afeganistão, sem esquecer os Balcãs. Uma nova expedição, tendo agora o Líbano por destino, está fora de causa para Londres.
França - O ministro dos Negócios Estrangeiros, Philippe Douste-Blazy, sublinhou que a hipótese de envio de novas tropas europeias para o Médio Oriente é "prematura". Há neste momento soldados franceses em Beirute, no âmbito da Unifil, missão de paz das Nações Unidas. Paris, ex-potência administrante do Líbano, não pretende envolver-se mais na região. Tem motivos para isso: um ataque suicida do Hezbollah a um quartel de Beirute, em 1983, matou 58 paraquedistas franceses - um facto que perdura na memória colectiva gaulesa.
Alemanha - As autoridades de Berlim admitem mandar tropas para o Líbano. Mas só em teoria. Porque esta disponibilidade esbarra com uma impossibilidade prática: os alemães só avançarão se receberem luz verde simultânea do Governo de Israel e das milícias do Hezbollah, como revelou o ministro germânico da Defesa, Franz Josef Jung. Ninguém acredita que isto possa acontecer.
Um alto responsável da UE, não identificado, ontem citado pelo New York Times resumia assim a situação: "Todos os políticos [europeus] aplaudem o envio de tropas, mas nenhum diz que soldados afinal poderão ser enviados [para o Líbano]". No fundo, "todos se oferecem como voluntários para tratarem da logística, em Chipre".
Esta ironia amarga demonstra bem o que é a Europa dos nossos dias...

A minha branca casinha


O site (não) oficial da Casa Branca é aqui. Com pérolas como esta, sempre a marcar a agenda de um Bush alternativo. E com muito mais sentido de humor.

Dá vontade de bocejar

José Sócrates, líder do PS, é benfiquista. Luís Marques Mendes, líder do PSD, é benfiquista. Jerónimo de Sousa, líder do PCP, é benfiquista. José Ribeiro e Castro, líder do CDS, é benfiquista. Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, é benfiquista.
É tão monótono viver num país todo pintado da mesma cor...

As palavras dos outros

“Só há dois períodos na vida de uma mulher em que ela espera ser considerada mais velha: abaixo dos dezasseis anos e para lá dos noventa.”
Ruth Rendell, Enigma na Escuridão

Vaidades, fardas e “etiqueta”

Sou uma pessoa relativamente vaidosa, das que preferem ter um "curto" guarda-roupa mas com um bom corte, de preferência clássico. Coincide aliás o meu gosto com as exigências “protocolares” da minha profissão. Constitui o meu habitual trajar um bom fato escuro, com uma camisa discreta e uma gravata… enfim, essa bem ao "meu gosto".
O episódio aconteceu há poucos anos, quando eu, com um meu belo fato azul-escuro, entrei no comboio em São João, a caminho do Cais do Sodré. Constatando que não havia lugares sentados, entrei pelo corredor do comboio. Quando me aproximei de uma cadeira para me “segurar”, logo uma simpática velhinha se agitou, prontamente retirando da sua bolsa o bilhete para eu obliterar devidamente.

De boas ideias está o Mundo cheio

Há uns tempos, tive a ideia de um jornal gratuito dedicado exclusivamente a boas notícias, nas diferentes áreas. Notícias como esta. Pensei chamar-lhe Bom Dia e ainda acho que seria uma óptima forma de começar a manhã. Não surgiram investidores.

Sem fins lucrativos

«Existe em Portugal uma associação cujo número exacto de membros é desconhecido, e que não se sabe se está a crescer ou a diminuir. Não é uma sociedade secreta. É o Estado português».
Rui Ramos, no Público.

terça-feira, julho 25, 2006

Uma pequenina luz

(...)
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha.

Excerto do poema de Jorge de Sena com o mesmo título. Para que brilhe. Aqui, no meio de nós, a pequenina luz. É quanto basta

Desfios jornalísticos

A jornalista Katie Courick, que em Setembro se tornará a primeira mulher a assumir a apresentação do principal serviço noticioso da CBS, anuncia alterações editoriais neste telediário, o de maior audiência nos Estados Unidos: "As pessoas querem mais perspectiva, querem perceber melhor o contexto das histórias. Tenho a sensação de que muitas das nossas peças não têm a desejada profundidade." Em tempo de informação light, cada vez mais dominada pelo espírito tablóide, estas declarações devem fazer-nos reflectir. Lá, como cá, um dos principais problemas do jornalismo actual é este mesmo: a falta de profundidade. Na televisão e nos jornais. Durante quanto tempo continuaremos a fechar os olhos?

Tertúlia literária (64)

- O que achou do último romance do Saramago?
- Um excelente ensaio.
- E do último ensaio do Carrilho?
- Um excelente romance.

Momentos Kodak (3)

Onde muitas pessoas bebem água, muitas outras lavam os pés...
(Vila Real de Santo António, 23 de Julho de 2006)
Foto: Rodrigo Cabrita

Vê-se logo que é estrangeiro

«Em Portugal, as pessoas confundem rede de contactos com cunhas».
Dana Redford, Doutorando na ISCTE Business School, citado pelo Jornal de Negócios.

"Os Sopranos" clandestinos

Até parece que alguém na RTP quer remeter Os Sopranos para a clandestinidade: a melhor série televisiva da última década, agora já na sexta temporada, regressou aos ecrãs portugueses numa altura do ano que só lembraria aos excêntricos programadores do canal 2: na segunda quinzena de Julho, quase a entrar Agosto, quando metade dos interessados já está de férias e a outra metade se prepara para fazer o mesmo. Com estes desastrosos critérios de programação até admira como a 2 ainda consegue a audiência residual que tem.

Indignação selectiva (2)

A indignação selectiva continua. Agora com a inevitável caução "intelectual", subscrita até por alguns que nos anos 70 e 80 entoavam loas ao defunto império soviético e ao inabalável Muro de Berlim. A estes e outros, Eduardo Pitta responde da melhor maneira. Enquanto o Jorge Ferreira faz aqui a pergunta óbvia: "O que é uma resposta proporcional em guerra?"

Silly season

Pacheco Pereira considera o Livro de Estilo do Público uma das vinte melhores obras de referência em português.

País de tarados

O DN coloca - e faz muito bem - este inquérito europeu realizado pela Men's Health com chamada de capa.
É sabido que esta revista é suspeita na sua orientação editorial, o que se prova pelo facto de só publicar fotos de ventres masculinos musculados e outras partes do corpo besuntadas de óleo. É uma revista supostamente para homens que raramente retrata mulheres, e isso diz tudo.
No entanto, o inquérito é revelador: 81% de nós preferem quecas de uma noite a parceiras estáveis, metade de nós é infiel e somos os que dispendemos menos tempo com preliminares (o que se explica cruzando com a informação anterior que favorece as rapidinhas).
Por outro lado, há conclusões nas quais não consigo acreditar: Só 13% fantasiam com um ménage a trois e apenas 1 em 4 é «adepto» de pornografia. Parece-me paradoxal, isto.
Ou então, somos um país de tarados felizes que passam a vida em engates nocturnos consecutivos e, por isso, não precisamos de fantasias e sublimações para nada. Quem diria, hem? Ena, ena.

segunda-feira, julho 24, 2006

As palavras dos outros

"Quando os deuses nos querem castigar atendem os nossos pedidos."
Oscar Wilde

Momentos Kodak ( 2 )


Alentejo, 11 de Maio de 2006
Foto: Rodrigo Cabrita

Auschwitz nunca mais

Amos Oz, um dos maiores escritores da actualidade, israelita de esquerda, resume todo o drama do Estado judaico concentrado nos últimos 60 anos de História: "Se Israel perder uma vez, isso quer dizer genocídio." Declarações feitas numa entrevista à Fernanda Câncio, que esta minha colega recordou em edição recente do DN. Depois do Holocausto, os judeus jamais aceitarão voltar a ser imolados: basta isto para justificar o combate quotidiano que travam contra o ódio de vizinhos que pretendem riscá-los do mapa. Estes vizinhos, recorde-se, declararam guerra ao Estado judaico no próprio dia em que foi proclamada a independência de Israel, em 1948, sob a égide das Nações Unidas. É este o primeiro dado fundamental para entendermos a fogueira em que se transformou o Médio Oriente, agora agravada pela proliferação dos "mártires de Alá", que matam indiscriminadamente em qualquer recanto do globo, e pela entrada do Irão no clube atómico, de consequências imprevisíveis.
Seis décadas depois, Israel joga diariamente a sua sobrevivência contra inimigos fanáticos que teimam em não lhe reconhecer o mais elementar dos direitos: o direito à existência. "Sou pela paz, mas não sou pacifista. Não sou adepto de oferecer a outra face", dizia ainda Amos Oz naquela entrevista. Queiram ou não queiram o Hezbollah e a sua legião de admiradores em todas as capitais do Ocidente, nunca mais se repetirão Auschwitz e Treblinka.

Pensamentos do Dalai Lima VII





24 de Julho: D. Pedro IV desembarca no Kremlin.




Nota: Post gentilmente cedido ao Corta-Fitas pelo autor.

Fashion victims

Já vos falei nos bigodes. Hoje é o dia das cuecas.
Mais uma vez, e quanto aos culpados, cherchez les femmes. Não vale a pena apontar o dedo aos gays da indústria da Moda, pobres títeres nas suas mãos envernizadas.
Como prova, basta reparar nisto: Ao mesmo tempo em que elas reduziam a sua roupa interior ao apropriadamente chamado fio dental (dada a espessura só quanticamente mensurável da tirinha de tecido) e revelavam assim ao mundo estrias, gorduras e celulite sem qualquer pudor, os homens foram proibidos de usar cuecas - ou slips, como queiram chamar-lhes - sob pena de morte social.
De uma vez por todas, é preciso que alguém diga isto: Não precisamos que as mulheres partilhem connosco 90% da sua superfície epidérmica quando andamos na rua, incluindo os sovacos, os umbigos, as coxas e os decotes.
Hoje em dia não há parcela que fique por ostentar, nessa fronteira entre a alça do soutiã e o cós das cuequinhas a saltar de dentro das calças. E pouco lhes importa se a experiência estética transmitida é, muitas vezes, impeditiva de uma boa digestão. É a lógica aplicada do «se não quiser que não olhe», como se as pupilas masculinas fossem controladas por um qualquer telecomando e o estrago não estivesse feito.
Já os homens, ai de nós se deixamos a descoberto um centímetro de barriguinha saudavelmente alimentada! No espaço privado, na sacra intimidade do lar, somos forçados a usar umas tendas de pano denominadas boxers. No espaço público, na mais descontraída das praias, o tirânico gosto impõe-nos fatos de banho estilo ceroula fina, até ao tornozelo.
Por mim, dava já o passo revolucionário de vestir contra a corrente. Só tenho medo é da consequência: Uma dor de cabeça. Para ela, é evidente.

Em breve: A recuperação da meia-branca.

Em 1898, sobre a arquitectura em Lisboa


O ilustre pintor (Columbano) vive numa velha habitação, para as bandas da Rua da Alegria. É um casarão amarelo, metido dentro de um pátio, e que, entre os horrorosos prédios de Lisboa, conserva ainda carácter. Outrora as casas eram quase como pessoas: havia-as com feitios de birra, sardentas e insolentes… Hoje o ideal é este: o prédio, a uniformidade, o horror…

Raul Brandão – Retirado de Uma visita a Columbano 1898
In Paisagem com Figuras – inéditos Vol. II, Âmbar 2006 – Organização de Vasco Rosa

Não contem comigo

Ontem à tarde, assisti por acaso a cinco minutos de emissão da Sport TV. Neste curto período, escutei três vezes uma estridente voz masculina que gritava: "Vamos fazer do Benfica o maior clube do Mundo!"
É muito fácil perceber por que motivo nunca me tornei assinante deste canal.

Responderam à chamada

Lida esta notícia no Correio da Manhã, gostaria de replicar aqui a lista dos 26 (entre os 230 deputados) que nunca faltaram às suas obrigações no Parlamento. Por ordem alfabética e porque não interessam as cores partidárias, quando o que está em causa são os valores de respeito por quem os elegeu:
Afonso Candal, António Filipe, Armando França, Arménio Santos, Celeste Correia, Correia de Jesus, Fernando Santos Pereira, Hermínio Loureiro, Hugo Velosa, Isabel Vigia, João Bernardo, João Semedo, Jorge Morgado, Jorge Strecht, José Augusto Carvalho, Luís Vaz, Maria Antónia Almeida Santos, Maria José Gamboa, Miguel Coelho, Mota Andrade, Odete João, Osvaldo Castro, Pedro Quartim Graça, Renato Sampaio, Teresa Diniz e Vasco Cunha.
Quando um dia houver círculos uninominais, lembrem-se deles e delas.

Nas colunas

«(Tell me why) I don't like mondays».
Bob Geldof e os Boomtown Rats.

História interminável

Para mim, já chega. Não quero saber de Israel nem do Hezbollah. Desde que me conheço que assisto a um mesmo filme, em que vão mudando apenas os protagonistas, substituindo os outros que morreram.
Tivesse contabilizado as vítimas dos dois lados, ao longo dos últimos 30 anos, e teria aqui um número hiperbólico que seria a soma desses múltiplos e infindáveis pequenos números que foram as vítimas, de um lado e do outro, dia após dia após dia.
Hoje, já não consigo sentir, envolver-me ou tomar posição. Não fico indiferente, mas não quero saber. Eles não se entendem e nunca se entenderão e a guerra mundial está sempre quase a começar por causa deles e a vontade que me dá é ir lá e dar estaladas a todos, sem excepção, até ficarem quietinhos e portarem-se como deve ser.
Pronto. Está dito.

domingo, julho 23, 2006

Jornais em tempo de mudança (III)

Na minha opinião de leitor observador comum, a actual crise da imprensa “tradicional” e “de referência”, tão debatida, dá-se, não tanto ao nível da sua forma e conteúdo, mas muito mais por causa do caos reinante na definição e distribuição dos conteúdos pelos suportes “tecnológicos”. Mas irei opinar sobre as duas faces da mesma moeda, começando pelos conteúdos.
No que diz respeito aos chamados jornais de referência, concordo com Fernanda Câncio (!), do DN, que numa crónica recente recusou a desesperada procura do público como saída da “crise”. Também me parece que não vale a pena tentar conquistar um público que não gosta de ler, disputando-o aos meios de comunicação audiovisual. Ambicionar a conquista de todos os nichos de mercado revelar-se-á um erro, por serem, em geral, inconciliáveis e de distintas exigências. Mas essa tentação persiste muitas vezes em manchetes duvidosas dos nossos jornais de referência. A primeira página e as manchetes serão sempre um factor crítico na afirmação de um qualquer jornal.

Concordo também com Pedro Correia, que defende uma alteração drástica do estilo de escrita: “não há mais lugar para a prosa fria e distante. Há que estabelecer efectivos laços de cumplicidade com o leitor. Num estilo personalizado, empático, afectivo”. Considero utópico e irritantemente anódino o jornalista “pretensamente” ausente. Porque não assumir-se enquadrado no terreno da sua pesquisa?
Além disso, e em atenção a um mercado tão pequeno como o nosso, seria bom que as linhas editoriais dos nossos jornais se definissem politicamente, como é comum nas mais antigas democracias ocidentais. Dá-me ideia que estão todos a escrever para o mesmo espectro social e ideológico, o enorme “Centrão”. E como, na verdade, não há “imparcialidade” ou independência totais, essa opção é equívoca.
Pessoalmente, gostava de ter um diário claramente posicionado no “centro-direita”, onde encontraria claramente as minhas referências ideológicas, e outro que fosse definitivamente de “centro-esquerda”. Uma vez por outra, até compraria os dois.

Ainda no que se refere aos conteúdos, apesar de ser reconhecida uma constante perda de público tradicional, é visível que nada se faz pelo “público do futuro”: as crianças. Nenhum dos jornais diários ou semanários (à excepção dos encartes de fim de semana do Diário de Notícias e do Público) reserva um espaço, pequeno que seja, para os mais pequenos, com BD, jogos e animação própria para a faixa etária dos 6 aos 12 anos. É um erro fatal, quando sabemos de uma grave contingência dos leitores e do público em geral: eles envelhecem e morrem! É preciso investir sempre nos futuros públicos. É verdade para o turismo, é verdade para a indústria automóvel e é verdade para os jornais. Pela parte que me toca, que bom destino seria dado a um pequeno destacável infanto-juvenil. Mas pronto, à falta de alternativa, os miúdos viram-se exclusivamente para a Internet. E aqui é que, quanto a mim, se gera o caos e surge a crise.

Etiquetas: ,